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Da total ignorância futebolística

Não perceber de futebol é quase tão mau quanto não beber álcool, ou seja, ninguém entende. No caso da bebida podemos, em desespero, alegar que somos dos alcoólicos anónimos, mesmo não sendo o caso. Com o futebol, a música é outra. Ora, ao fim destes anos arranjei alguns truques. Um deles, que funciona muito bem, é dizer que sou do Belenenses. Ninguém se aborrece comigo, é como ser alguém simpático e ponto final, não há discussão. Numa conversa com uma jornalista parlamentar, adepta do Benfica, disse – de forma muito cândida, posso garantir – que não sabia (agora já sei!) quem era o Rui Costa. Ela respondeu de imediato e em tom severo: Quem não sabe quem é o Rui Costa, não é português.
Posso agarrar-me à costela espanhola, que a tenho, até no nome, mas isso pouco importa. A verdade é que só percebi quem era o Figo quando apareceu num prédio junto à Segunda Circular num anúncio de uma marca de café. Durante 13 anos vivi com um portista e as pessoas diziam-me, muitas vezes: então? ontem lá te safaste, hã? não levaste pancada! Posso garantir que estas coisas eram ditas em jeito de brincadeira e eu não lhes achava grande graça. Separei-me. Casei com um benfiquista, desses que tem cadeira no estádio, cartão de sócio e mais uma série de coisas. Vivo só com homens, tive dois filhos, os dois benfiquistas. O meu irmão é benfiquista. Isto fez com que eu escrevesse um livro infanto-juvenil sobre o Eusébio e a taça e o treinador húngaro Bela Guta, na colecção Diário do Micas. Espero que seja um sucesso, mas não deve ser, caso contrário a editora já me teria dito alguma coisa. A minha avó, do alto dos seus 80 anos, é do Sporting e ouve os relatos na rádio (não perguntem). E eu lá vou dizendo que durante o jogo há coisas que preciso mesmo de fazer: lavar roupa, escrever um texto, rever outro, qualquer coisa serve. Ontem parece que houve um jogo importante. Estou habituada, todos os jogos têm a sua importância. Ok. Vi um filme e fiquei na paz do quarto a ver como o jornalismo à americana é uma treta, o filme também era uma treta. Depois fui bombardeada com o fenómeno Cristiano Ronaldo. Atenção, não tenho nada contra o senhor, decerto que é o melhor jogador do mundo, mas não sei nada sobre o senhor, nem sequer sei onde joga. Sei que é português, que joga bem, que vem de uma família humilde e que foi para a academia do Sporting (disse-me a minha avó) com 11 anos vindo das ilhas. Ok. Até aqui, tudo bem. Posto isto, parece que é muito importante que o Cristiano Ronaldo tenha feito o que fez, a bem da nação e do futebol, ainda bem, folgo em saber. Mas, desculpem, quem é o Messi?

por Patrícia Reis, em 20.11.13

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