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Uma TDT de hipocrisias

A presidente da Anacom disse hoje que o mercado não tem interesse em mais canais na TDT, mesmo havendo espaço para eles (leia aqui). Só não explica que a falta de interesse vem do facto de que a TDT estabelecida em Portugal não tira proveito da tecnologia digital, não oferece interatividade, não oferece nem mesmo a TV móvel, canais em HD, serviços teletexto, legendagem ou canais de rádio. Quem quer uma TV de qualidade no país deve pagar por ela. Por isto a TDT beneficia, e muito, os canais pagos.

E sobre a cobertura nas zonas de sombra a presidente não fala? A Anacom poderia liberar o acesso às dezenas de canais que têm condições serem visionados pelo sistema via satélite, mas optou por entregar à PT o monopólio na venda dos kits. Os aparelhos comercializados pela PT bloqueiam o acesso aos canais cujos sinais poderiam ser captados legalmente em Portugal, o que parece ferir a Lei das Comunicações Eletrónicas.

Estamos fartos da enganação que temos que aturar sobre a TDT. É só hipocrisia atrás de hipocrisia. Continuam a tentar explicar o inexplicável. Fazem o que fazem e depois inventam desculpas.

O caso dos subsídios é outra vergonha. Apenas 4 mil pessoas utilizaram o incentivo, sendo que 220 mil tinham o direito da receber o benefício na compra dos descodificadores e kits satélite, conforme li aqui.

Isto ocorreu por conta da burocracia desmedida para que os prováveis beneficiários pudessem obter o subsídio e também devido à falta de informação.

A PT agradece, pois assim não gastou com os idosos e as famílias carenciadas. Agradece também porque vendeu mais pacotes MEO, com contratos de fidelização.

É preciso ressaltar também as constantes falhas na receção da imagem. A Anacom quer rever a questão, adotar um sistema de multi-frequências, mas até agora não estabeleceu um prazo para que isto ocorra. Também não demonstrou ainda interesse em obrigar à PT a ampliar a cobertura e reduzir as zonas de sombra, já que a empresa terá mais canais no espectro para distribuir os sinais.

O regulador também não parece contar com o fenómeno anual da propagação a longa distância (Ductos) que sempre assola Portugal Continental no verão. Ou seja, se não houver um planeamento que garanta não haver interferências com Espanha em todo o país (e não só nas zonas de fronteira, pois o fenómeno dos ductos faz com que chegue a Lisboa sinais de Espanha e até do Marrocos, nos meses mais quentes) os problemas verificados na TDT no ano passado repetir-se-ão todos os anos.

A Anacom fala como se não tivesse culpa pelo sistema pífio que temos. É para ficarmos indignados com tamanho descaramento.

Filed under: TV digital

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